sexta-feira, 24 de junho de 2011

Minha herança, uma flor








E sinto que uma única coisa me prende a esse lugar... 
Aos olhos estranhos ela é infértil, parece perecer diante do calor escaldante, na terra seca repleta de cicatrizes deixadas pelo sofrimento. Minha herança é a minha flor, a flor que um dia plantei, continuo a regar e a cuidar. Bem, enquanto eu respirar vou me lembrar dela. Profundas rachaduras e impiedosas rugas, quão dolorosas parecem ser, sinônimas de agonia. Há anos tento entender o porquê de aumentarem a cada dia.
É preciso força pra sonhar e perceber que estrada vai além do que se vê, e eu sei que a solidão dela me dói, me envolve em um mar de angústia. Existe um espinho em minha carne, é como se a cada pétala arrancada uma cicatriz fosse cravada em sua pele e refletida em mim... E mais vez uma lágrima brotou dos seus olhos cansados.
O vento que entortou essa flor passou também por nosso lar. E com audácia foi ela quem desviou com golpes de experiência. Aprendeu cedo com a dor, não por escolha. A deixou marcas profundas e a fez carregar nas costas o que ninguém mais suportaria. 
Minha herança, minha flor. Se tornou o meu apreço. Cresceu ouvindo anedotas, clichês e chacotas... frustrações. Aprendeu a desatar os nós sozinha, sentiu de perto a frieza deste vento, que um dia teve o prazer de arrancar do seu rosto o mais puro e sincero sorriso. Mas não hesito em dizer que, o que não a derrubou, a tornou mais forte. Meu exemplo de perserverança. Seus ramos continuam a ser podados mesmo fora de época. Mas suas raízes penetram ainda mais na terra seca em busca daquela gota d'água. A gota que a faz caminhar, a sua esperança. E se o tempo a levar e um dia eu a olhar e não reconhecer... Mas nós somos um quadro de Botticelli, "A primavera' para sempre representará a sua volta, fagulhando em cores vivas. 
Eu não posso parar o vento, nem mesmo evitar que ele apareça outra vez a ela. Mas vou abraça - la até ele ir embora. Isso eu prometo. 

Naiara Dourado


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